sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Os elos
- Por que os elos são abertos? - perguntaria, bem desse jeito (com e sem dúvida), caso ainda me honrasse com o sentimento de outrora.
A resposta não se distanciaria muito da que lhe ofereci por ocasião de um diálogo sobre tatuagens (a diferença é que, no lugar dos elos, tínhamos um coração).
- Abertos porque não se completam, querida.
E é certo que a réplica me viria entre duas risadas bem frouxas, desgarradas da dona - como sempre foram, durante todo aquele tempo. A cabeça jogada para trás. E eu daqui, tirando a foto mental, por trás do mojito.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
A mulher amada
A cada metro de estrada vencido, caminhando a passos largos, maior é a certeza de que irá voltar. E, no dia da volta, ela estará à sua espera, no rosto aqueles olhos que são, ao mesmo tempo, candura e perdão. Sorrirá o mais branco dos sorrisos, pleno de calor e repreensão maternal, e o tomará nos braços como tomaria a uma criança que, assustada e temerosa de um carão, horas antes se perdera pelas ruas da cidade. Em seu colo, ele se aninhará e não quererá partir nunca mais. Molhará as vestes da mulher amada com lágrimas sentidas, que são todo o amor que guardou consigo enquanto dormia em camas alheias. Ela beijará seus olhos e passará os dedos por seus cabelos, e com a voz quente dirá que será sempre sua, como já era no primeiro dia, como jamais poderia deixar de ser. Sentindo o corpo estremecer, ele será tomado pela indizível sensação de estar de volta ao lar, e seu lar é aquela mulher cujo corpo é a mais sólida das construções: pés que se plantam na terra como vigas de aço, braços delgados e firmes de árvore antiga, o farto ventre que recende a tudo que é seu.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
eita, vontade
vontade de entrar no primeiro vôo para o Rio de Janeiro,
vontade de sair correndo, nua, na chuva.
vontade de beijar na boca todo ser que me diz uma palavra inteligente.
vontade de beijar o melhor amigo.
vontade de socar a amiga que ligou praquele imbecil de novo.
vontade de abraçar o mundo.
vontade de dar praquele cara, marido da fulaninha.
vontade de perder tudo, nos braços de um outro alguém.
vontade de ser dele, e dele, e deles. e de ninguém.
vontades, vontades. o mundo é feito de tantas vontades, e de outras tantas desvontades.
vontade de, agora, usar aquele vestido branco, na beira da praia e caminhar ao teu lado, sob a lua cheia que faz com que, entre a gente, a coisa seja diferente.
são todas vontades. são tantas... e vontade é aquilo que dá na gente, mas passa.